segunda-feira, 5 de março de 2012

Mesmo fora do cargo, Derosso mostra força no Legislativo

Da Gazeta do Povo

Mesmo estando oficialmente fora do comando da Câmara Municipal há 100 dias, o vereador João Cláudio Derosso (PSDB) continua agindo como presidente da Casa nos bastidores. Derosso, que preside a Câmara há 15 anos, pediu licença em novembro depois de várias suspeitas de irregularidades sobre sua gestão terem sido levantadas. Em fevereiro, renovou o pedido por mais 90 dias, o que manteve o interino Sabino Picolo (DEM) respondendo oficialmente pela Câmara.
No entanto, há vários indícios de que Derosso continua como “eminência parda” da Câmara. Propostas que não lhe interessam, como os requerimentos da oposição para que seja retirado em definitivo da presidência, são barrados. Mesmo sem ter cargo oficial na Mesa Executiva, é chamado para debater os assuntos de gestão da Casa. E tem acesso livre ao gabinete da presidência, que em teoria, por enquanto, não pertence mais a ele. Nesta semana, a reportagem da Gazeta flagrou Derosso na sala de presidente, usando o telefone.
Para Picolo, a presença de Derosso, com o telefone em mãos, apenas comprova o que ele prega em sua gestão: a democracia. “Sempre falei que minha administração seria compartilhada. Qualquer vereador está livre para usar a sala de reuniões ou o telefone da presidência, não apenas o Derosso”, explica. “Essa sala não é minha, é dos vereadores, do povo. Ela não está fechada para ninguém”, diz. A reportagem procurou Derosso para comentar o assunto, mas ele não respondeu às ligações.
Bastidores
O encaminhamento dos requerimentos pedindo o afastamento definitivo de Derosso e a realização de novas eleições mostra a força que o presidente licenciado ainda tem. Um deles não foi lido “por falta de tempo”. O outro deveria, pelo regimento, ser votado no dia em que foi protocolado. Não foi assim: primeiro, a proposta foi encaminhada para o jurídico. Quando voltou, também não foi a plenário. Sabino Picolo pediu o parecer da Comissão de Legislação e Justiça. Lá, o relator designado para a proposta foi Emerson Prado, líder da bancada do PSDB – partido de Derosso. Prado também foi o presidente da CPI que investigou o presidente licenciado.
Regalias
Ao se tornar mandatário da Casa, o presidente recebe, além das responsabilidades do cargo, algumas regalias. Há vaga específica no estacionamento, elevador exclusivo para “autoridades” e o gabinete da presidência, localizado no quinto andar, um verdadeiro latifúndio se comparado ao espaço destinado para os demais vereadores. Curiosa­mente, embora o gabinete de Derosso esteja em outro andar, ele é visto com frequência na presidência. Picolo ainda reveza entre a presidência e o gabinete “tradicional”.
Picolo afirma não usar o estacionamento específico para presidente porque considera sua vaga no subsolo melhor: “Não pega sol”. Sobre o fato de não ter trocado a equipe nomeada por Derosso, também se explica. “Conheço todos. Como era para ficar 90 dias, achei melhor não mudar”, diz. O presidente em exercício diz considerar naturais os comentários de que Derosso continua a exercer a presidência. “Foram 15 anos no poder. Serão necessárias pelo menos duas legislaturas para mudar”, afirma.

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