quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Decadência do ensino público

Karen Fukushima
Revista Ideias

O resultado do Enem de 2010 divulgado pelo MEC apresentou uma educação pública em frangalhos, com raras exceções. Os números que separam excelentes e péssimos ensinos estão além do mero ranking. É retrato do descaso e falta de assistência de governos que prometeram muito e fizeram quase nada.

Dados divulgados pelo Minis­tério da Educação (MEC) no último mês apresentam o triste quadro da educação pública brasileira. No Paraná, apenas três escolas estaduais figuram entre as 20 que fizerem melhor pontuação no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem de 2010. As 20 piores escolas do Estado são da rede pública.

Os dados do Enem foram divulgados respeitando quatro categorias, divididas de acordo com a porcentagem de participação dos alunos no Exame (veja quadro). Como a realização das provas não é obrigatória há escolas que não são contabilizadas. É o caso das instituições com menos de 2% de participação. De acordo com o MEC, a média de participação dos estudantes no Enem 2010 foi de 56,4%.

Das 175 escolas paranaenses que foram classificadas no Grupo 1, apenas 37 são da rede pública. Neste mesmo grupo, 8.431 alunos das escolas classificadas participaram do exame e a média total variou entre 691,99 e 483,65 pontos, entre o primeiro e último lugar.

O pior é que este ranking que escancara o baixo rendimento dos alunos do ensino público não espanta. Com exceção de três instituições, o Colégio Militar de Curitiba e outras duas escolas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus de Pato Branco e Cornélio Procópio (ambas do Grupo 2), a realidade apresentada é de uma educação pública em frangalhos.

Pior - No fim da lista do Grupo 1 (escolas com mínimo de 75% de participação), com a pior colocação do ranking está o Colégio Estadual Nossa Senhora Aparecida, em Rio Azul, no Sudeste do Paraná. Os estudantes da escola tiveram o pior desempenho do Estado e atingiram a média geral de 483,65 pontos.

O diretor da escola, Gervásio Surmacz preferiu se posicionar contrário ao Enem. Disse que desconsidera os resultados do Exame e que os números considerados pela instituição são os do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

Já o ex-diretor do colégio, o professor de Educação Física Anacleto Ianoski, acredita que o maior problema é a falta de motivação dos alunos, seja por falta de incentivo dos pais ou porque a maioria dos estudantes trabalha em companhias de fumo da região e vão às aulas apenas para obter a frequência exigida pelos seus empregadores. A escola não oferece nenhum tipo de preparação para o Enem.

Outro índice lamentável da escola é o de alunos que ingressam no ensino superior. De acordo com o ex-diretor apenas 1% dos alunos entram na faculdade.

Melhor - Já o Colégio Militar de Curitiba alcançou o primeiro lugar entre as escolas públicas paranaenses, com média de 667,36 pontos. Mas o que distingue o Colégio Militar de Curitiba da Escola Nossa Senhora Aparecida, em Rio Azul? Não são os 183,71 pontos no ranking, mas toda uma cultura do aprendizado. O colégio militar impõe sim diretrizes rígidas de disciplina aos alunos, mas em contrapartida os estudantes aceitam e acreditam nos padrões impostos pela instituição. A maior diferença entre os alunos da pior e da melhor escola pública do Paraná está na perspectiva de futuro destes grupos.

Lá, faltam incentivos para a continuidade dos estudos, para o ingresso no ensino superior. Aqui, os alunos são preparados. Há seleção até para ingressar no colégio. São inúmeros contrastes por se tratar de instituições completamente diferentes. Qualquer análise comparativa será superficial.

A verdade é que centenas de milhares de estudantes, principalmente àqueles do interior do Estado, mal assistidos e mal amparados, saem das escolas com um ensino superficial. Educação média. Herança de governos que prometeram a melhor educação pública do Brasil, com o melhor secretário de Educação que o Estado poderia ter. Mas se considerados o ranking do Enem, vê-se que a educação pública no período dos irmãos Requião foi um desastre. Nem as tevês laranja e muito menos o currículo bolivariano ajudaram o Paraná a alçar números satisfatórios na educação.
 

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