Por Yoani Sánchez
Carregar um caderno de viagem é tão difícil como
estudar para uma prova de matemática no interior de uma discoteca. Atenta a
nova realidade que se mostra ante meus olhos desde que saí de Cuba, vi-me ante
a alternativa de viver ou narrar o que me ocorre, atuar como protagonista deste
itinerário ou como a jornalista que o cobre. Os dois pontos de vista são
difíceis de serem postos lado a lado, dado a velocidade e a intensidade de cada
acontecimento, portanto tratarei de ir colocando por escrito algumas
impressões. Linhas do que me sucede, fragmentos às vezes caóticos do que
experimento.
A primeira surpresa do programa foi no Aeroporto
Jose Martí de Havana quando depois de atravessar a porta da emigração vários
passageiros começaram a se acercar e a me dar suas mostras de solidariedade. O
afeto foi crescendo na medida em que o trajeto avançava e no Panamá encontrei
uns venezuelanos também muito carinhosos… Apesar de me pedirem o favor de que
não subisse a foto com eles para o Facebook… Para não terem problemas em seu
país. Depois dessa escala veio o vôo mais longo até o Brasil, com uma sensação
mental e física de descompressão. Como se houvesse estado submersa muito tempo
sem poder respirar e conseguisse agora ter uma inspiração de ar.
No aeroporto de Recife um lugar para o abraço… Ali
encontrei muitas pessoas que durante anos têm apoiado meu empenho de viajar
para fora das fronteiras nacionais. Houve flores, presentes e até um grupo de
gente me insultando que muito gostei – confesso – porque me permitiu dizer que
eu sonhava com que “algum dia em meu país as pessoas pudessem expressar
publicamente dessa forma contra algo, sem represálias”. Um verdadeiro presente
de pluralidade para mim que chego de uma Ilha que tentaram pintar com a
monocromática cor da unanimidade. Mais tarde tive aceso a uma Internet tão
rápida que quase não compreendo, sem páginas censuradas nem funcionários
olhando por cima do ombro a página que visito.
Desse modo que até agora vai tudo muito bem. Brasil
tem me dado o presente da diversidade e do carinho, a possibilidade de apreciar
e narrar tantos assombros.
Tradução e administração do blog em língua
portuguesa por Humberto Sisley de Souza Neto
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