Ele afirma que ‘não há intermediação,
ingerência ou lucro’ sobre encontros. Promotoria e Polícia Civil afirmam que
sites de acompanhantes são legais.
Do G1 com Ponto Crítico
O
proprietário do site que hospedou o anúncio de Elize Matsunaga quando ela
trabalhava como acompanhante afirmou ao G1 nesta quarta-feira (13) que seu
negócio é legal e que não controla “contatos, datas e horários dos
compromissos” das garotas com os clientes. “Não há intermediação, ingerência ou
lucro”, disse.
Imagem
mostra anúncio de novembro de 2004 com foto de Elize.
De acordo com a investigação da polícia sobre a morte
do executivo Marcos
Matsunaga, diretor-executivo da Yoki, o site foi utilizado
pelo empresário para encontrar Elize, com quem se casou. O executivo também
encontrou a amante Natália através do site.
O
executivo foi morto e esquartejado em 19 de maio e teve partes do seu corpo
encontradas em Cotia (SP), no dia 27 de maio. A mulher de Marcos, Elize Matsunaga, confessou
o crime e está presa na cadeia de Itapevi.
“Esclareço
que o site MClass é somente uma empresa de classificados na internet (…), que
divulga os anúncios das acompanhantes com dados e imagens após as mesmas assinarem
um contrato de autorização e veiculação de anúncio, com as devidas comprovações
de maioridade”, afirmou Rodrigo dos Santos ao G1,
por email.
A
equipe de reportagem localizou
na internet um anúncio com foto de Elize, com data de novembro de 2004. No
anúncio, ela apresentava uma breve descrição: “Sou uma loirinha muito
carinhosa. Você não vai se arrepender.” O anúncio não está mais disponível, mas
nele ela ainda acrescentava medidas e dados. Elize se apresentava como Kelly.
À
época, ela dizia ter 18 anos, quando na verdade tinha 24, e informava ter
1,65m, 50 kg e manequim 36.De acordo com Santos, o site recebe meio milhão de
visitantes por dia. Ele afirmou que sua empresa não tem conhecimento dos tratos
entre os visitantes e assinantes e as acompanhantes, já que os contatos são
feitos diretamente pelo telefone particular das anunciantes. “Nossas receitas
advêm das mensalidades dos nossos assinantes.” A assinatura custa R$ 34,90.
Legalidade
De acordo com especialistas, os limites entre a legalidade e a ilegalidade de sites de anúncio de prostituição podem ser bastante tênues, vindo ou não a configurar o crime de rufianismo, previsto no artigo 230 do Código Penal Brasileiro.
De
acordo com o Código Penal, o crime de rufianismo é caracterizado quando se tira
“proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte”. A definição, portanto, delimita o
tipo de site considerado criminoso no Brasil.
Para
a ONG SaferNet Brasil, não é possível enquadrar todos os sites com esse perfil
em uma única categoria. Há sites, segundo a organização, que vendem espaço para
o anúncio de serviços sexuais e outros que agenciam, recrutam, facilitam
inclusive viagens.
O
site que se limita a vender espaço publicitário geralmente não está cometendo
atividade ilegal. De acordo com a Polícia Civil de São Paulo,
sites com anúncios de acompanhantes não configuram crime já que a prostituição
no Brasil não é crime. Nestes sites, ainda segundo a polícia, cada garota de
programa apresenta números telefônicos pessoais, portanto não há configuração
de agenciamento.
“Partindo
da premissa que essas mulheres são maiores de idade e capazes, não há vocação
criminosa para esses sites, até porque a prostituição no Brasil não é
considerada crime. Pode haver apenas uma reprovação moral por parte das
pessoas, mas a oferta de serviços de natureza sexual não é considerada
criminosa”, explica o promotor de Justiça Tomás Ramadan.
São
consideradas criminosas, no entanto, as práticas de agenciamento e exploração
da prostituição, ou rufianismo.
“Em
geral as acompanhantes que aparecem nesses sites pagam por seus anúncios e
recebem seus clientes em apartamentos alugados, então não há como punir isso,
porém se for comprovada a exploração da prostituição, ou a submissão de menores
a práticas sexuais, a conduta configura crime”, diz.
Páginas denunciadas
De
acordo com a SaferNet, entre abril de 2010 e março de 2012, pelo menos 987
páginas de internet foram denunciadas por conteúdo criminoso relacionado ao
tráfico de pessoas, tanto interno quanto internacional. Dentre essas páginas,
cinco organizações criminosas destinadas ao aliciamento e recrutamento de
modelos para prostituição foram identificadas.
A
ONG não recebe denúncias específicas de rufianismo, mas afirma que há casos do
crime que se enquadram nas denúncias de tráfico de pessoas.
Já
casos de páginas que dão espaço à exploração sexual de crianças e adolescentes
são criminosas. A denúncia mais comum, segundo a SaferNet, tem sido de sites
com a divulgação de imagens contendo cenas de violência e abuso sexual de
crianças. Nos últimos seis anos, cerca de 300 mil páginas com conteúdo
impróprio foram denunciadas e mais de 20 mil casos foram confirmados pela
Polícia Federal.
A família e os amigos
Conversei com alguns amigos de infancia de Elize em Chopinzinho, sudoeste do Paraná e todos afirmam não acreditarem no que aconteceu. Elize era considerada um menina meiga e muito dócil com as pessoas, ajudava a mãe a bordar e vender panos de prato para complementar a renda da família. A mãe, Dona Dilta Araujo, passa por um momento difícil em sua vida, pois além de estar lutando contra o câncer, vê sua vida desmoronar da noite para o dia. "Ainda não acredito no que está acontecendo, parece que vou fechar os olhos e quando acordar tudo isso terá sido apenas um pesadelo horrível, me sinto muito fraca e incapaz de ajudar minha filha, não tem como explicar o sentimento neste momento, quero apenas lutar para ficar com minha netinha, ela é muito parecida com a mãe quando era pequenininha".
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