Elio
Gaspari
O
comissário voou num jatinho de doleiro para um descanso porque, como se sabe,
passagens estão caras
Quem
não se lembra do deputado André Vargas (PT-PR)? Quando o ex-governador gaúcho
Olívio Dutra sugeriu que o deputado José Genoino renunciasse ao mandato, o
companheiro foi-lhe à jugular: "Quando ele passou pelos problemas da CPI
do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo. (...) Ele está sendo pouco
compreensivo. Ele já passou por muitos problemas, né?"
Falso.
Olívio Dutra nunca assinou empréstimos fraudulentos, nunca foi acusado de
envolvimento no caso do bicho e jamais foi condenado pela Justiça. Ao
contrário, é uma das poucas lembranças da moralidade petista.
Quem
não se lembra desse episódio talvez se recorde da cena em que o comissário
Vargas, vice-presidente da Câmara, saudou seus companheiros com o punho
cerrado, estando ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal. Parecia um
Pantera Negra dos anos 60.
Vargas
é um representante do PT 2.0. A repórter Andréia Sadi apanhou-o voando para as
férias nas asas do doleiro Alberto Youssef, figurinha fácil de inquéritos
policiais e poderoso intermediário na Petrobras.
Desde
que os jatinhos tornaram-se símbolo de poder e conforto, hierarcas de todos os
partidos recorrem a amigos para não voar com a patuleia.
Vargas,
contudo, inovou na justificativa. Disse que cometeu uma
"imprudência". Teria sido imprudência se tivesse entrado por engano
no avião fretado pelo doleiro, depois de ter sido chamado para embarcar num voo
comercial. Não foi imprudência, mas onipotência.
Novo
argumento: pediu o jatinho a Youssef porque os voos comerciais estão muito
caros. Certo. A escumalha que vai para a rodoviária por esse mesmo motivo merece
o desconforto porque não tem doleiro amigo.
O
melhor momento do companheiro deu-se quando revelou que conhece Youssef há mais
de 20 anos, mas não sabia com quem estava se relacionando. Seria então a única
pessoa que não sabe a atividade de um amigo com quem se relaciona há mais de 20
anos. Youssef fornece jatinhos para amigos poderosos desde 2001. Anos depois,
frequentou o noticiário do escândalo do Banestado, passou pela cadeia,
refrescou-se colaborando com o Ministério Público, mas não se livrou de uma
condenação.
Numa
troca de mensagens com Youssef (cuja atividade comercial Vargas desconhecia), o
companheiro tratou de um interesse da empresa Labogen junto ao comissário
Carlos Gadelha, do Ministério da Saúde. Por coincidência, essa pequena empresa
teria sido usada pelo doleiro para remeter US$ 37 milhões ao exterior.
O
amigo de André Vargas não é um doleiro petista, mas um operador
suprapartidário. Já cedeu jatinhos para gente do PFL e tem relações no PP, pelo
menos com o ex-deputado José Janene, um dos ases do mensalão. A presença de
Youssef em negócios da Petrobras, cobrando pedágios a fornecedores, é um sinal
de que mudou de patamar. Ele tratava com o diretor de Abastecimento da
Petrobras, Paulo Roberto da Costa, a quem presenteou com uma Range Rover. Há um
enorme cheiro de outro velho escândalo no ar. Quando por nada, pelas
coincidências. Em 2005 descobriu-se que outro fornecedor da Petrobras
presenteara Silvio Pereira, secretário-geral do PT, com uma Land Rover. André
Vargas nunca diria uma palavra contra Silvinho, pois sabe quão compreensivo ele
foi.
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